Revista Marimbondo

Música | Noites Doces

Paola Rodrigues?, ?“Noites Doces?”?, 2014

Eu sei que a gente vive falando mal da vida
reclamando de tudo e de todo mundo
mas a verdade é que a gente não vai nada mal
Pode parecer mentira eu falar uma coisa dessas
em tempos de tanta perda, mas é verdade
porque apesar de ter dito antes que a minha
casa ta em mim
eu sei também que a casa da gente tá onde
os nossos amigos tão, né?

Quando eu cheguei aqui eu não entendia
ninguém e odiava sentar numa mesa de bar
Mas hoje eu posso passar metade de um dia
indo de bar em bar com vocês
só olhando pras mesmas caras e rindo das
mesmas piadas
e isso me faz feliz
ou então quando a gente vai no karaokê cantar aquelas musicas ruins
e conversamos no meio daquela gritaria sobre
as coisas mais irrelevantes
ou falando as coisas sérias meio que rindo mesmo

Às vezes a gente faz aquelas festas lá em casa
e a síndica fica doida porque vocês nunca se cansam, nunca se cansam
É bom também quando dá pra viajar e ver a outra parte de vocês
e eu me lembro de um outro pedaço de mim
tentando sempre alcançar o presente
a gente vai na praia pra saber que tá tudo igual ainda
e talvez sempre vai estar

Até que a gente percebe que se conhece
bem demais mesmo nesse superfície opaca
que criamos
e então alguém apoia as mãos nos meus ombros
e isso é tudo
e então alguém me bate na cara pr’eu acordar
e isso é tudo
ou me chuta a bunda, ou me zoa dizendo
“Paola agora é música”
e também me carrega pelas escadas falando
que eu só preciso de um banho

E então algumas noite, nós ficamos tão doces
por meia hora sem respirar e bebendo só fumaça
vendo os desenhos bonitos dos azulejos
gritando e estendendo as mãos pelas ruas
e as grades girando em espiral
e não conseguimos sair do apartamento
por causa da água empoçada
evitando os cantos das boates
essas luzes estão tão brancas,
e todos os gestos exagerados
o desconforto de estar no meu corpo
todas as músicas são boas
mas algumas são desconfortáveis
o toque de pele com pele, veludo quente
as viagens de ônibus a 200km por hora
todos os personagens de um livro em mim
a leveza insustentável de ser
a dificuldade de respirar diante de todas essas cores que eu nunca vi antes
todas as voltas que damos pra explicar
que isso me faz sentir bem
e que talvez todo o resumo
seja só que eu amo vocês
mesmo perdida nessa confusão
que só existe diante dos meus olhos