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Ahh violências… essas palavras não marcaram minha cara e não tenho uma cicatriz que exponha minha vergonha. Mas eu sei que elas me dilaceram, me fazem ser quem eu sou e o que eu serei na memória dos outros …
(Pega um dos sapatos de Teresa e o calça)
A gente faz o que a gente acredita e acredita no que a gente tem, né?! E eu que nem sei bem o que eu tenho….
(Em direção ao livros, enrola o cordão de Sor Juana no pescoço. Em seguida, vai até o espaço de Malinche e coloca sua faixa na cabeça)
Eu… que me uno a essas mulheres pelo que há de mais imutável e inacessível em mim. Meu útero, ovário, glândulas mamárias, coração. Deixo isso visível, que apodrece como qualquer coisa.
(Pega a faca, aponta para a cobra e vai em sua direção, ameaçadora)
Quando eu era criança e me contaram a história do pecado original, fiquei muito intrigada, pensando em como seria se Eva, assim como eu naquela época, estivesse banguela. Seria Adão a morder maçã. E PAH: A história da humanidade salva por uma janelinha!
(Vai em direção aos livros, tira a faixa de Malinche e coloca a faca no chão. Pega os livros, os joga no chão. Por fim, tira o sapato e aponta para a cobra)
Busquei por uma Malinche brasileira, mas eu preferiria ser uma Anastácia mascarada, ou uma mulher que ninguém sabe quem foi a virar um ícone. Sor Juana virou moeda, acredita? Ela vale dois pesos no México. Se fosse eu… ah… que besteira. Se fosse eu… Eu não tenho peito para ser como Sor Juana! Nem como Tereza! E não venha me julgar: a mulher perdeu as filhas, porra!
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FICHA TÉCNICA
Atuação: Luísa Lagoeiro
Direção: Sara Rojo
Dramaturgia: Gabriela Figueiredo
Assistente de dramaturgia: Cristina Dulce
Preparação corporal: Fabrício Trindade
Preparação vocal: Isabela Arvelos
Iluminação: Arthur “Arock” Diniz
Figurino: Valquíria Corrêa
Confecção e trabalho de máscara: Rafael Bottaro
Cenografia e trilha sonora: O Coletivo
Produção executiva: Bruno Félix e Suelen Thompson