Fora da origem
Na terra onde eu nasci a ciência não existe
aliás ela existe
quando é pra me destruir
Pontes de concreto
eu de corpo todo duro
encolho os ombros e
escondo peitos
uso das tecnologias de gênero
para demonstrar volume
Matematicamente visto cuecas
encaixo o packer no grelo
não tenho tinta no cabelo mas pinto
minhas unhas quando deixo crescer
a barba
de certo modo faz todo sentido
tenho um piercing no umbigo e
todo esse imaginário é o que me seduz
O que seria como
seria se não fosse
a tal da ciência que se atrela
a toda norma em vigência
crucifica até quem nem de Cristo conhece
e se esquece das variantes do corpo biológico
aquele considerado natural
Dados binários lançados à mesa
talvez eu seja mesmo repetitivo nos temas
por estar contaminado pelos neologismos
não há cotidiano pra mim sem haver redundância
Às vezes me justifico por essa culpa que me condena
saio de cena
reapareço andrógino
intersexo, não binárie, neutro
Talvez como um átomo neutro
de prótons e elétrons em números de mesma quantidade
Na química n = A – Z
na ciência médica atual intervenções cirúrgicas
na infância um buraco XXY de genes.