Revista Marimbondo

Laís Corrêa de Araújo

Revolta

Se a vida é vida,
deixem-me tomar um banho de sol,
começar outra vez de branco,
há uma penca de ilusão
em todos os começos.

Se a vida é vida,
deixem-me colecionar estrelas,
reaver os ventos tardios
que esmigalham as esperas,
voltar às tranças.

Se a vida é vida,
deixem-me pintar os cabelos,
sair com algum destino.
Se a vida é vida,
deixem-me recusar a paz.

 

Maternidade

Se por eles
em lugar deles
apropriando-me deles
confiscando-os.

– Lágrimas e sussurros.

Condenada à
metamorfose de meus embriões
assisto, irada,
a seu inflar-se de
lliberdade.

 

Percurso

de
uma casinha
desenhada
no papel

a
um casarão
recheado
de papel

 

[Poemas presentes no livro Inventário 1951/2002.
Editora UFMG, 2004.]