Revista Marimbondo

Gráfica Livre

Se alguém entrasse na gráfica no meio da tarde, encontraria tudo, menos o clássico ambiente de sala de aula. Nada de silêncio ou alunos sentadinhos em suas respectivas carteiras, mas adolescentes de tênis e cabelos coloridos conversando enquanto liam, escutavam música, escreviam, desenhavam, costuravam cadernos ou mexiam no computador. Foi nesta salinha um pouco apertada, barulhenta e entulhada de papéis e de tintas que inventamos processos colaborativos e experimentais de criação, edição e publicação de livros. A gráfica e editora Oi Kabum! foi uma combinação de laboratório de produção gráfica, editora, sala de aula e ponto de encontro entre estudantes, professores, poetas, escritores e artistas da cidade, uma experiência aberta e coletiva, fortemente atravessada pelas singularidades das juventudes periféricas e LGBTQIA+, que conseguiu fomentar a produção literária e visual de dezenas de jovens, criando diálogos com coletivos e artistas de Belo Horizonte que têm ressonância até hoje. Entre 2012 e 2016, a gráfica foi um dos laboratórios da Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia de Belo Horizonte, um projeto viabilizado financeiramente a partir de uma parceria entre a iniciativa privada e o poder público, voltado para jovens e adolescentes, entre 16 e 24 anos, estudantes ou egressos de escolas públicas e moradores dos mais diferentes bairros da capital e, também, de cidades da Região Metropolitana, como Contagem, Sabará, Ibirité e Santa Luzia.

A Kabum estava localizada a poucos metros de distância do Horto Florestal da UFMG, região Leste de Belo Horizonte, em uma área repleta de árvores e bichos, como quatis, micos e tucanos. Durante 30 anos, o espaço abrigou uma unidade da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, a FEBEM, que foi extinta nos anos 1990. Os prédios e a área de 70 mil metros quadrados foram completamente reconstruídos. As janelas estreitas e gradeadas foram substituídas por enormes janelas de vidro que projetavam a natureza para dentro da sala de aula, transformando um espaço de privação de liberdade em um espaço de criação e fruição artística. Depois do almoço, era comum ver os estudantes espalhados pelo gramado. Alguns aproveitavam para tirar um cochilo embaixo de flamboyants e ipês. Outros andavam de skate, jogavam peteca ou futebol. Tinha uma turma que treinava slackline. Fui uma das primeiras professoras a chegar, em 2009, e uma das últimas a ir embora, em 2016. Além de dar aulas, eu participava ativamente do cotidiano da gráfica. Junto com o poeta Renato Negrão, também professor da Oi Kabum!, líamos os textos dos estudantes, editávamos esse material e acompanhávamos todas as etapas de produção de um livro, da escrita à publicação, pensando estratégias de circulação e visibilidade para as produções dos alunos.

“A gráfica era o menor cômodo da escola e o mais acolhedor. Um refúgio para muitos estudantes e ponto de troca de imagens, textos e referências”, explica o artista Piero Bagnariol, ex-professor da escola. Piero relembra que o sonho de montar uma gráfica estudantil era um projeto antigo, a proposta foi tanto potencializar a formação dos estudantes, proporcionando uma experiência prática em impressão e acabamento de projetos editoriais, como atender às exigências da Secretaria de Estado da Educação. Em 2012, a Kabum se transformou em escola técnica e uma das exigências era a criação de um laboratório para o curso de design gráfico.

Outro professor central na criação da gráfica e na escolha dos equipamentos foi o artista e designer Ricardo Portilho: “Eu conheci a riso quando fazia mestrado na Holanda. Lá tem um squat (!) que, na década de 1980, começou a experimentar mimeógrafos à tinta, uma tecnologia avó da riso, e depois a risografia. Tive a oportunidade de conhecer esse espaço e conhecer como funcionava a mistura das cores. Eles produzem livros de artista, publicações de ativistas, folhetos e zines, são uma influência e uma referência importantes. A gente decidiu comprar a máquina e, a partir daí começou a história toda.” Impressora de origem japonesa, criada em 1946, a riso é considerada uma das primeiras duplicadoras digitais que, além de econômica, é fácil de operar e extremamente rápida, imprime até 180 cópias por minuto. Durante muito tempo, impressoras riso foram usadas por empresas, escolas e veículos de comunicação que reproduziam provas, apostilas, jornais e papelaria de escritório. Nos últimos anos, entretanto, a máquina passou a atrair a curiosidade de artistas que perceberam o potencial estético da técnica risográfica. A máquina possui cartuchos de tinta independentes. Assim, ao imprimir primeiro uma cor e depois outra, acontecem falhas de registro, sobreposições, como manchas e borrões, que produzem um efeito visual semelhante ao de técnicas de impressão manual como a serigrafia, e foi justamente esse efeito que atraiu a curiosidade de artistas no mundo todo. A estrutura física e de maquinário da gráfica era bastante enxuta: uma mesa redonda no centro e outra, retangular, encostada na parede, que era usada para fazer acabamento; três computadores; duas impressoras, além da riso, havia uma impressora à laser; uma guilhotina para cortar papel; uma máquina de grampeamento lateral e outra de dobrar papel.

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Conjuntamente – professores, funcionários e estudantes –, elaboramos uma política de uso que tinha como objetivo descomplicar o acesso à produção gráfica, estimulando o desenvolvimento de projetos autorais individuais ou coletivos. Cada estudante tinha uma cota de impressão. Os custos eram subsidiados pela escola, que entendia a autonomia na produção como parte fundamental do processo de aprendizagem e de profissionalização dos estudantes do curso técnico em artes visuais. Caso a cota fosse ultrapassada, os estudantes podiam propor permutas. Nesse caso, impressões eram trocadas por serviços, como minicursos, ou suprimentos, como papel, tinta etc. A política de uso e acesso foi uma construção coletiva, resultado de muita reflexão, que entendia o laboratório não apenas como uma extensão da sala de aula, mas como um espaço de criação e de pesquisa de projetos autorais, uma gráfica de acesso livre, ou seja, um espaço onde a apropriação inventiva dos meios de produção acontecia com liberdade real. Ricardo Portilho relembra: “Tirando esse exemplo do squat da Holanda, pela tecnologia utilizada e um pouco pelo perfil, não tenho referência de outra gráfica estudantil e colaborativa como foi a da Kabum. Existem gráficas e editoras que são famosas para quem estuda design gráfico e publicação, mas é difícil falar de um espaço com uma história constituída por jovens e adolescentes, uma gráfica estudantil. Nossa experiência foi muito legal e, no meu entendimento, quase única. Ela, também, tem a ver com as invenções que fizemos como coletivo, a questão da autogestão, de colocar artistas para trabalhar na gráfica e de tornar o espaço permeável para os estudantes. Foi muito rico e muito legal de verdade.” Recentemente, tomei conhecimento de uma experiência bastante parecida com a nossa, que aconteceu na Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ. A gráfica Kabum tinha especificidades que, infelizmente, não podem ser facilmente replicadas. A principal delas é que possuíamos infraestrutura: tempo, espaço, equipamentos e recursos financeiros para experimentar e criar com total liberdade. Fomentar e apoiar a produção dos estudantes era uma tática para aliar a formação artística e técnica com uma questão essencial para as juventudes periféricas: a autonomia financeira. A longo prazo, a proposta era que os estudantes conseguissem produzir e viver do próprio trabalho.

Escreve que quero ler

Desde o surgimento da escola, a escrita mostrou-se um ponto de confluência e de disparo para diversas produções. Era grande o interesse dos estudantes por processos que envolviam a palavra e seu diálogo com outras linguagens. Alguns estudantes que estavam matriculados em cursos como fotografia ou vídeo desenvolviam trabalhos de escrita. A partir dessa percepção, e também como forma de movimentar ainda mais a gráfica, criamos o Escreve que quero ler, um edital que tinha como objetivo selecionar e publicar obras inéditas, em prosa e poesia, dos estudantes da escola. Realizamos duas edições do projeto, publicando ao todo oito obras, entre livros individuais e antologias.

A primeira edição do Escreve que quero ler foi voltada para os estudantes da Oi Kabum! de Belo Horizonte. Na segunda edição, expandimos o projeto para jovens das escolas de Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Os estudantes que tiveram seus textos selecionados passaram uma semana conosco em Belo Horizonte, se hospedaram, de forma solidária, na casa de jovens da escola e de professores. Além disso, durante a residência, o grupo participou de uma oficina de edição e preparação de originais, com a escritora Laura Cohen, e puderam acompanhar algumas etapas do processo editorial, vivenciando o cotidiano de uma gráfica pequena. “Éramos aspirantes a escritores e acabamos nos tornando escritores ali dentro. Conseguimos vislumbrar como o mercado funciona, acompanhar como o livro está sendo feito, como está sendo tratado, se deu alguma coisa errada, se você curtiu ou não curtiu a revisão. Eu participei da concepção de tudo, da capa, do projeto editorial. Muitas vezes, escritores de grandes editoras não têm essa opção, porque a própria editora acaba construindo isso, o autor fica com as palavras, mas ali dentro a gente tinha a faca, tinha a cola, a tesoura, a gente tinha as palavras, a tinta”, relembra Priscila Cemis, escritora, fotógrafa, ex-aluna da Oi Kabum! e autora dos livros Eu acho que vivo dentro de um filme e Cinco coisas sobre o corpo, publicados, respectivamente, na primeira e na segunda edição do Escreve que quero ler.

Moradora de Sabará, Priscila passava horas dentro do transporte público no trajeto de casa até a Kabum, uma rotina cansativa, mas que ela conseguia subverter, transformando o ônibus em uma espécie de laboratório de escrita. Os contos do seu primeiro livro foram produzidos a partir das observações, conversas e episódios que vivenciou, sobretudo, dentro daquele espaço itinerante, revelando um olhar atento e sensível aos acontecimentos aparentemente invisíveis do mundo. Atualmente, Priscila está concluindo a faculdade de Letras e Edição no CEFET-MG e segue escrevendo: “Eu considero um privilégio e guardo aquela experiência num lugar especial. A experiência de publicar meu primeiro livro num lugar de muito afeto. Não era uma gráfica, mas um espaço que nos possibilitava errar, aprender e depois acertar. Era um lugar de muito cuidado, de muita atenção e de muito acolhimento.”

Mesmo antes da criação do Escreve que quero ler, a produção editorial de temática LGBTQIA+ vinha se tornado uma presença constante na gráfica. Pelo menos dois fatores colaboraram para esse cenário. O primeiro deles diz respeito ao projeto pedagógico da Kabum: respeitar e acolher as diferenças sexuais e de gênero era um princípio político, conectado aos objetivos de construir uma escola onde as juventudes se sentissem confortáveis para expressar, livremente, seus modos de ser, o que inclui o respeito a todas as orientações sexuais e de gênero. Sabemos como ambientes escolares podem ser opressores e violentos. Por isso, insistentemente, conversávamos sobre a relação da arte com a política e com temas como diversidade de gênero e sexual, discriminação, racismo, machismo, entre outros. A questão LGBTQIA+ não era uma discussão pontual, mas estava presente no cotidiano vivo da escola. O segundo fator relaciona-se à própria natureza de uma escola de arte. Os estudantes eram, também, insistentemente, provocados a transfigurar e criar, por meio da prática artística, suas realidades, dilemas e conflitos, entendendo esse fazer como uma experiência estética que não se descola da realidade e dos conflitos que vivemos.

Cotidiano foi uma dessas produções. Escrito por Caio Matias, estudante do curso de Artes Visuais, o livro narra, por meio de fragmentos que se aproximam da estética do diário, a rotina de um jovem trans e as modificações corporais e subjetivas que acontecem durante o processo de transição. Situações como o medo de encarar familiares e amigos, mas, também, a alegria silenciosa de se deparar, numa manhã qualquer, com os primeiros pelos de barba são narradas na obra. O texto foi impresso em papel vegetal, criando um embaralhamento, uma espécie de barreira visual, que dificultava a leitura do texto. Uma escolha estética que materializava a intenção do autor de reproduzir, no gesto de leitura, os obstáculos que as pessoas trans vivem cotidianamente. A partir da sua própria vivência como homem trans e de conversas e entrevistas que realizou com amigas e amigos trans, Caio escreveu um livro comovente sobre as subjetividades trans. Além desse trabalho e de tantos outros, publicamos, também, o primeiro livro da artista Ventura Profana, na época estudante da Oi Kabum! do Rio de Janeiro. A cor de Catu apresenta uma reunião de narrativas autobiográficas, ilustrações, poemas e colagens, e foi uma das obras selecionadas na segunda edição do edital Escreve que quero ler.

Durante a existência da gráfica, publicamos cerca de 50 trabalhos, individuais e coletivos, como livros, zines, folhetos, cartazes, revistas, história em quadrinhos, manifestos, lambe-lambes. Participar dessa experiência coletiva de edição e de publicação me ajudou a estabelecer as raízes do meu trabalho como escritora e professora, não descolando uma prática da outra, muito menos criando hierarquias entre elas. Podemos chamar aqueles processos que inventamos na Oi Kabum! de oficinas, laboratórios, residências ou, até mesmo, de aulas. Nunca se tratou de criar uma metodologia fechada, mas aguçar uma sensibilidade, sem muitas bordas, em relação à escrita, criando espaços de imersão, curiosidade, encantamento e partilhas. Quando penso na destruição que vem sendo promovida pelo governo de extrema-direita que está no poder, entendo a experiência de uma gráfica de gestão coletiva, colaborativa e de pensamento livre, ocupada por jovens estudantes de arte, como um refúgio frente à miséria política e ao estrago que vivemos atualmente no Brasil. Imersos naquele ambiente festivo e afetuoso, alguns de nós viveram um dos períodos mais potentes de suas vidas. Para nossa alegria, tínhamos plena consciência de que aquela salinha, apertada, confusa e barulhenta era mesmo uma festa.

 

Cotidiano, Cinco coisas sobre o corpo e A cor de Catu foram publicados pela gráfica-editora.

Fragmento do livro Cotidiano, de Caio Matias.

Hoje pela manhã, acordei no mesmo horário de sempre, às seis horas. Ainda mal conseguia abrir os olhos e me aproximei do espelho. Não pude me conter. Aproximei-me um pouco mais e me vi, toquei em meu rosto e vi alguns pelos, ainda que poucos. Confesso que tenho medo de tirá-los e nunca mais vê-los novamente. Fico extremamente feliz, mesmo sendo poucos e cheios de espaços entre eles. São meus, nascem de mim. Até que enfim chegaram. Minha conquista. Só quem sente o doce prazer de ver-se no espelho e se sentir realmente refletido sabe o quão bom é.

Fragmento do livro Cinco coisas sobre o corpo, de Priscila Cemis.

Cresci tendo Miguel na cabeça e ele o peito aberto na gaveta do meu pai. Um dia mexi no armário dele procurando alguma coisa, qualquer coisa que não me lembro o nome, alguma coisa que não era Miguel. Enquanto fuçava bagunças, me veio um envelope com aquele nome escrito no verso. Era ele e foi um choque. Era ele de peito aberto, aparelhos entrando e saindo das suas veias, tubos atravessando a pele. Não somente uma, mas várias fotografias e coisas escritas, papéis e mais papéis. A foto que meu pai mais gostava era a primeira delas, um pouco amassada e com as pontas gastas. Eu também gostei daquela foto. Ela tinha, bem ali no meio, aquilo que fazia nosso olhar balançar de um lado para o outro, tentando frisar uma só coisa. Olhei para ela tentando remontar todos os conceitos que aprendi na escola. Miguel tinha dois corações.

Dois Poemas do livro A cor de Catu, de Ventura Profana.

VI
Pina tinha cabelos que varriam a grama.
Vendia crocodilos e corujas no centro da cidade.
Era míope, mas acreditava em Deus.
Desviava das placas, transitava pela vida
dando nome às nuvens.
Evaporou de solidão.

VII
Mania de curupira.
Cicatriz na banda bonita da bunda, cerca de arame.
Falava farpas para o sistema, do sol.
Óculos de lentes redondas e vermelhas
coberta para os olhos de jabuticabas.
Não trabalhava às segundas.
Colava trechos de suas músicas nos suportes
de luz da província.
Este é o Joaquim.

 

FEIRAS DE PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE

 

As trocas e aprendizados eram resultado, também, da presença de pessoas de fora da escola na gráfica. É importante lembrar que aquele período coincidiu com o surgimento, em Belo Horizonte e em outras capitais brasileiras, de um forte movimento de publicação independente que culminou na criação de eventos e espaços de comercialização, circulação e visibilidade para publicações alternativas. As conhecidas Feiras de Publicação Independente surgiram como estratégia de disseminar trabalhos que tinham pouco ou nenhum espaço no mercado editorial (livrarias tradicionais e feiras de livros).

A convite da artista Ana Rocha, criadora da Polvilho, uma plataforma de publicação independente, participamos, em 2013, da nossa primeira feira. “Fizemos a feira totalmente na cara e na coragem. Existiam altas chances de ser um fiasco. A gente tinha participado de apenas uma edição do Kamelô Gráfico. (!) Não tínhamos nenhuma experiência, mas deu tudo certo. Fizemos uma pequena convocatória, conseguimos mobiliário emprestado com amigos. Para nossa surpresa vieram editoras de vários estados, foi muito legal e conseguimos perceber o tanto de coisa legal que estava sendo produzida no Brasil naquele momento”, relembra Ana.

A partir daquela primeira participação da Oi Kabum! em uma Feira de Publicação Independente, surgiram convites para outros eventos e iniciativas que tinham a publicação e o ativismo editorial como foco. Participar dessa cena foi um modo conhecer e fazer vínculos com artistas e coletivos da cidade e de fora de Belo Horizonte. No final de 2013, a gráfica foi convidada a participar de uma residência, em São Paulo, com um coletivo de artes gráficas chileno. Além disso, diversos artistas de Belo Horizonte, interessados nas potencialidades gráficas da riso, começaram a nos procurar. Algumas dessas pessoas estabeleceram com a gráfica trocas, aprendizagens colaborativas e vínculos afetivos. Uma dessas pessoas é a ilustradora e artista visual Bruna Lubambo, duas vezes finalista do Jabuti, nas categorias livro e ilustração infantil. Seu trabalho como artista vem sendo reconhecido nacionalmente por experimentar técnicas analógicas e artesanais de produção de imagem, como serigrafia, xilogravura, carimbos e colagem na ilustração de livros infantis. Bruna era presença constante na gráfica: “Imprimi meu primeiro trabalho de literatura ilustrada lá. Foi antes de me entender como ilustradora, um livro que minha mãe escreveu e eu ilustrei. Era literário, mas tinha uma pegada informativa sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Eu já estava namorando a ideia de ser ilustradora e essa foi minha primeira experiência.” Bruna conta que trabalhar numa gráfica pequena, com poucos equipamentos e algumas restrições, foi fundamental para o desenvolvimento do seu pensamento artístico: “Gosto muito de trabalhar com restrição, é uma maneira interessante de aprender, ajuda no pensamento criativo, porque te obriga a desconstruir o processo da produção gráfica e a pensar em outras possibilidades criativas para o livro.” Para Bruna, uma das ressonâncias daquela experiência foi aprender a valorizar todos os processos de impressão, principalmente os alternativos.

 

(!) O Kamelô Gráfico foi uma feira de artes gráficas independente e itinerante. A iniciativa criada pelos artistas João Perdigão e Luis Navarro surgiu em Belo Horizonte, em 2011, com o objetivo de incentivar a circulação, divulgação e a troca de produções próprias do universo impresso.